sábado, 14 de junho de 2008

CRÔNICAS DO PROF. ISRAEL

A Cultura (TV) e a “Dona” Ionete: fragmentos de uma opinião
Prof. Israel Fonseca Araújo(*)


Antes de mais nada, advertências: este texto não foi/está sendo escrito por um Cientista Social, ou Doutor em Comunicação Social, ou Antropólogo...; nesta máquina, não se tem o circunflexo e nem o grave; sou professor de Língua Portuguesa, como sabem (e com orgulho, apesar dos pesares!).
Sempre esperei pela entrada da TV Cultura ao nosso Município, mas acreditava (to) que não seria uma boa cartada para a nossa sociedade eminentemente capitalista. Delongas á parte, a Cultura chegou em nossa Cidade (é pura transgressão!), bateu-nos á porta e entrou (sem o “-nos”) em nossos lares. Na minha opinião, uma das pouquíssimas melhores notícias que nos tem chegado nos últimos anos. Tento me fazer entender a seguir.
Para quem queria mais uma oportunidade de ver aqueles filmes desengraçados que a Globo passa, ou umas sete novelas por dia (SIM, o Big Bosta também é uma novela, só que mais “picante” e apelativa do que as outras), ou uma enxurrada de anúncios das Casas Bahia, do Líder ou da Yamada (esqueci do Nazaré)... essa “entrada” não é bem vinda – mas toda primeira vez costuma doer: é o que se diz amiúde por aí. A (TV) Cultura chega até nós para trazer mais conhecimentos/saberes/cultura de boa qualidade, para falar do Brasil, SIM, mas para nos mostrar coisas do Pará que, ás vezes, nem sabemos que existem ou, por muitos motivos, esquecemos que existem: a Globo só passa as coisas ruins do Pará!.
Um amigo meu disse: “pra mim, que não tenho cultura, não foi bom” – crasso erro!; numa borracharia, outro homem disse que é bom, mas que estaria (até 25/02/08) passando apenas coisas da parabólica... Bom, pra mim (que sou educador) é uma ótima notícia – no mínimo pelo que tenho a dizer a seguir sobre a “Dona” Ionete.
No “Sem Censura Pará”, da Cultura, 25/02/08, tinha a coordenadora do Pro-Paz (gov do Estado), uma Doutora em Lingüística, uma Doutora em Letras (Amarílis Tupiassú/UFPA, assim mesmo o nome dela) e um Doutor em Genética – mas doutoras (res) que cursaram Doutorado e defenderam uma Tese de Doutoramento: não “doutoras/res” de apelido – e “Dona” Ionete! Fiquei arrepiado (!) em virtude da qualidade do programa, e por ver a Professora Aposentada Ionete, daqui do “Miri”, baluarte do “Canarana” e da Cultura igarapemiriense. Sendo chamada de “Dona” (sem maldade contra as outras “donas”) é que eu não gostei: deveria ser Professora.
Incrível o encanto, a nostalgia, o deleite com os quais Ionete fala de nosso Município. Após dizer que veio da região do Marajó, passou a falar de Igarapé-Miri de forma apaixonada, vislumbrada. Disse que tudo ela deve a um Município chamado Igarapé-Miri. Impressionante como o nosso “Miri” (lembrei-me, agora, do “Alo, Miri”, do Nazareno da Sabor Açaí!) faz os olhos de Ionete brilharem, o que me faz perguntar por que o Pinduca, ao ser entrevistado pela Ana Maria Braga (2006) e pela TV Liberal (2006/sobre o 1º DVD), não fez sequer uma referência-zinha (transgressão!, a volta) ao nosso “Miri”: falou bem e justamente de Belém, das viagens pelo Pará, a São Paulo, do programa com Ana e Louro José, mas do “Miri” NADA. Mesmo quando a apresentadora disse: “O que você vem fazendo ultimamente?” – a resposta passou por longe.
Incrível essa questão das Identidades (são transitórias: vivemos a Pós-Modernidade). O mesmo torrão que tanto fascina umas pessoas passa ao longe nas veias de outras. Ionete falou de seu trabalho (já exposto aqui no JM), em Belém, em Marapani, em São Paulo, do CD gravado, da vida de professora de História, dos quatro anos em que foi Secretária de Cultura por aqui, de outras coisas. Mas, antes de tudo falou que é de e que “deve” a Igarapé-Miri – talvez seja o contrário. Se me equivoquei, perdoem-me: é o encanto, o fascínio de ser Miriense, e com orgulho (o retorno do orgulho!). A Democracia pede passagem.

(*) Breve Nota sobre o autor:

Especialista em Estudos Lingüísticos e Análise Literária (CCSE, UEPA, 2007), Licenciado Pleno em Letras/Português (CUBT, UFPA, 2007), professor de Língua Portuguesa na Rede Pública de Ensino de Igarapé-Miri (PA), poeta, cronista, colaborador dos Jornais “Jornal Miriense” e “A Folha de Maiauatá”. Ex-Formador de Grupo (Língua Portuguesa/Segmento de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental) do Programa de Formação Continuada “Parâmetros em Ação”, MEC/SEMED – Ig.-Miri, tem uma série de trabalhos publicados nesses jornais e em forma de resumos/posters em encontros científicos, de textos de opinião, além da obra “CONTRASTES – poemas que nascem na Amazônia”, no prelo, com o também poeta Antônio Marcos Ferreira. Ultimamente (2007/8), tem dado Oficinas e Palestras acerca da Poesia e da Leitura (Letramento), em algumas Escolas Públicas de Igarapé-Miri (PA). E-mail: fonsecaraujo@bol.com.br; poemeiro@hotmail.com.


Publicado originalmente nA Folha de Maiauatá, mar/2008.

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