segunda-feira, 2 de março de 2009

CRÔNICAS DO PROFº ISRAEL

Uma croniquinha de Linguística...

Que traz algumas notas sobre o “Novo” Acordo Ortográfico do Português
Prof. Israel Fonseca Araújo(*)




Olá, tanta gente, e que (talvez) goste de ler as sóbrias loucuras que tenho grafado neste Jornal! Quanta saudade de vocês, de todo mundo(!). É verdade: me senti obrigado a tratar de questões mais voltadas para o último contexto sócioeleitoral e, assim, saí (de raspão) de meu foco. Mas agora estou de volta para as nossas gostosas conversas sobre linguagem. Depois das piriquitas, das lapadas... agora “tá bombando” essa coisa das siglas: GDK, GDF, GDC etc. (Pensei em criar a GD-IS: traduzindo, “Galera do Israel”. Mas para quê?, baseada em quê?, patrocinada por quem?. Melhor deixar essa conversa para depois, mesmo porque essa instituição poderia ter um curto prazo de validade e nem teria músicas gravadas em sua homenagem).
No final do ano passado (Feliz Ano Novo para todo mundo!), na mídia, a bola da vez era a entrada em vigor do “Novo” Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, a partir de 1º de janeiro deste. Pois bem, ele entrou e não sei se alguém sentiu muitas dores devido a esse fato. E quero me meter nessa conversa, mas para dar apenas algumas notas sobre a questão.
Primeiramente devo dizer que o mesmo foi assinado, em Lisboa, a 16/12/1990 (faz quase vinte anos!), por países da chamada comunidade lusofônica – países que têm o português como língua oficial: Brasil, Portugal, Angola, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde e Timor Leste. Tendo sido aprovado, em terras pindorâmicas, através do Decreto Legislativo nº 54, de 18/04/1995 (Douglas Tufano. Guia Prático da Nova Ortografia. Melhoramentos, 2008). Isso mesmo, há um Decreto que determina o que é certo e o que é errado na nossa escrita. Depois, o que muda é muito pouca coisa em termos percentuais, mas o bastante para causar medos nas pessoas: a) as letras K, W e Y voltam a fazer parte de nosso alfabeto; b) como já disseram os sábios Cassetas: “voo perde assento e passageiros têm de viajar em pé”; c) o trema não mais existe e a lingüiça agora é uma linguiça; d) há mudanças nas regras de acentuação gráfica, e, logo, Coréia agora é Coreia, jibóia, jiboia e muitos outros casos mais. Mas a pronúncia continua a mesma e o pior é o caso do uso do hífen. Tufano diz que “o documento oficial do Acordo não é claro em vários aspectos” (2008, p. 4) e muita gente está bastante receosa diante da escrita.
Terceiro, ninguém nasce sabendo. Por esse motivo, quem quiser entrar “nos eixos”, nesse sentido, deve se dedicar a estudar as novas regras. Ninguém é iluminado, tendo nascido com essas convenções gravadas em sua k-beça. A escrita é uma convenção, uma (fracassada) tentativa de imitar a fala. Tanto é uma convenção que vigora através de Decreto (documento legal) – já imaginou se houvesse decretos normatizando o uso das vestimentas em nossas festas profanas ou religiosas! Quantas prisões, hein?. Outro depois: Evanildo Bechara, considerado por Marcos Bagno como o maior gramático vivo do Brasil, afirmou em recente entrevista ao “Jornal Nacional” (TV Globo, 30/12/2008) que essas mudanças nunca são para esta geração e, sim, para as gerações futuras. Ufa! E o combatido Pasquale Cipro Neto, no mesmo programa/dia, afirmou não saber se as despesas geradas com essas poucas mudanças não seriam grandes demais.
Quinto, o Acordo já entrou em vigor (1º/01/2009), mas o “antigo” ainda vigora em concomitância com este “Novo” até 31/12/2011. É bom mesmo que todo mundo tenha que estudar isso, para ajudar a desconstruir um mito que há, no Brasil, quanto ao nosso idioma: o que de que o português seria muito difícil (cf. Bagno, em Preconceito Linguístico, o que é, como se faz). Assim ficará mais fácil as pessoas se desprenderem de uma crença idiotizante que temos, ainda muito em nós: a de que não sabemos (saberíamos) o nosso português (Bagno fala em autoaversão linguística).
Por fim (por enquanto), peço que tenhamos bastante cuidado com relação à forma com a qual a imprensa televisionada trata de uma questão como essa. Isso mesmo: é a TV uma das maiores incentivadoras desse preconceito fortemente enraizado em muitas das nossas consciências – a de que o português é/seria muito difícil. Estamos tratando só de escrita! E esta é apenas uma parte da questão (linguagem). Lógico que vamos custar um pouco a nos adaptar às mudanças, mas daqui a um tempo pouco mesmo se falará (para não dizer falar-se-á) sobre isso. Um detalhe a mais: as oxítonas terminadas em I e U continuam não recebendo acento gráfico. E Anapu, Moju, Icatu, caqui, siri, Miri e outras não devem ser acentuadas graficamente.
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(*) Miriense, professor, poeta, colaborador dos jornais A Folha de Maiauatá e Jornal Miriense, do blog afolhademaiauata.blogspot.com e de outras coisas mais!