segunda-feira, 16 de julho de 2018

Israel Araújo: Crônica "O Roubo do Gato Morto"



O Blod d'A Folha de Maiauatá disponibiliza umas das produções em prosa (ficção) do professor e poeta Israel Fonseca Araújo, Acadêmico-Fundador da ACADEMIA IGARAPEMIRIENSE DE LETRAS (AIL), onde ocupa a Cadeira 07 (Patrono: Manoel Luiz Fonseca), primeiro Presidente desse Silogeu (2015-17).
Mestre em Letras (UFPA), o poeta vem se assumindo como o "Poemeiro do Miri", há quase uma década, sendo que é no Blog homônimo (www.poemeirodomiri.blogspot.com) que costuma publica a maioria de suas publicações (poéticas, artigos de opinião, mas, sobretudo, suas produções do campo da pesquisa acadêmica na grande área dos estudos linguísticos, enunciativos, com fundo na Análise do Discurso (vertente francesa), além de pesquisas no campo dos estudos literários (Graduação e Especialização em Letras).

Segue a crônica: 



O roubo do gato morto
(Crônica aguda)

Israel Araújo (Poemeiro do Miri)


Se se diz que é verdade ou mentira, importa pouco, e pode mesmo ser coisa de “pouco gosto”. É preciso contar o que não deve ser escondido, claro.

__ Ela já saiu com a “coisa”, pra jogar na rua, pro carro do lixo.
__ Ainda bem, retruca a vizinha, já incomodada com o que poderia advir dali.

Nada de tão sério assim, mas, em terra de amputados, quem tem uma perna... já viu! Verdade é coisa de relativismos, pensa, às vezes, a vizinha do lado. “Mas ainda bem que ela foi jogar fora o bicho”, resmunga.

__ Nesta vida, vivem inventando coisas. A tal da “modernidade”, vizinha. Veja a senhora se isto tem cabimento. Guardar uma coisa dessas na própria casa...?

__ Cruz Credo!, retruca a outra.

Mas quem pensa em tudo levar vantagem, bem, quem pensa assim vez ou outra entra pelo...

Era já pra bem depois das nove, medo de o caminhão do lixo passar e o “bicho” ficar pra trás, de não ser levado.

__ Tenho de despachar logo, logo isto. (“E a agente vive é arrumando para cara da gente, mesmo”, pensa consigo)

Assim que saiu de sua casa, sacolas da “Y. Yamada” às mãos, (já falecida, essa) o tal “bicho” segue pra ser jogado ao destino final, aquele que ninguém sabe para onde vai, mas todo vê no crescimento dos entulhos, a olhos nus nas nossas cidades. O “bicho” já quase chegado às latas derradeiras.

__ Pode passá já pra cá esse troço, p***, que tu já deveu!

E assim lá se foi o gato morto, de dois dias, que dona Maria queria jogar por fim no caminhão do lixo.

Essas tais de “modernidades”.


sexta-feira, 6 de julho de 2018

Francilene Valente: Poema LENDAS DO MEU LUGAR

LENDAS DO MEU LUGAR

Lene Valente (2014)



É com grande satisfação
Que a todos vou falar
De um lugar acolhedor
E bastante popular
Para muitos que aqui
Estão a me escutar

Lá eu nasci, cresci
E me pôs a estudar
E mais tarde da comunidade
Comecei a participar
E logo em seguida
Comecei a trabalhar

Hoje muitas coisas
Os homens modificaram
E as bonitas histórias
Pra contar ficaram
Gravadas na memória
Daqueles que apreciaram.

Deste lugar eu tenho
Muito o que falar
Foram tantas as histórias
Que eu ouvia contar
E muitas delas
Eu me atrevo a relatar.

Rio Maiauatá
É de quem estou falando
E na cultura lendária de lá
Que vou mergulhando
E pelo imaginário Amazônico
Rapidamente vou viajando

Vou começar pela lenda
Da cobra encantada
Que muita noite foi
Por minha avó contada
E que eu ouvia
E ficava admirada.

A cobra já estava grande
E precisava desencantar
Mas era preciso ter coragem


Para os desafios encarar
Porque se tudo desse errado
Seu encanto ia redobrar

Mas tinha também a lenda
Da matinta pereira
Que por lá passava
Toda sexta feira
Com o seu forte assovio
Deixando aquela zuadeira.

Muito se falava
Da lenda do lobisomem
Que quando vinha
Sempre estava com fome
A noite era bicho
E de dia voltava a ser homem

Do boto namorador
Eu ouvi muita gente falar
Que a sua preferencia era
As mulheres do lar
Ele deixava o marido sair
E subia pra namorar,

A iara também era
Uma moça encantadora
Que seduzia os rapazes
De uma forma dominadora
E muito se comentava
Sobre sua beleza sedutora.

Isto é um pouco
Das lendas do meu lugar
Que por muito tempo fez parte
Da crença popular
E que aos pouco foi se perdendo
E deixada pra lá

Os nossos avós
Até tentaram preservar
Essa cultura lendária
Que hoje não se vê falar
Pois a tecnologia chegou
E roubou o seu lugar.


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Nota do Blog: Francilene Farias Valente Araújo (Lene Valente) é líder comunitária na C.C. São Benedito-Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, instalada no Rio Maiauatá, onde trabalhou por mais de mais de 15 anos como Agente Comunitário de Saúde. Tem Graduações em Matemática (UNISA) e em Educação do Campo (UFPA) e cursa Especialização em Ensino de Matemática e Física (e-mail: lenefarias29@hotmail.com).