segunda-feira, 28 de julho de 2008

CRÔNICA

Iguais
Isaac Fonseca¹
Há coisas pretas e brancas. Mas, também, vermelhas, amarelas e laranjas. Só pra não me alongar muito.
O café feito em nossas casas é preto. Já o leite é branco. Eu, por exemplo, adoro café, mas não gosto muito de leite, a menos que os dois estejam juntos.
As medalhas que os franceses ganharam na última copa do mundo de futebol são brancas, e as dos italianos amarelas. O motivo (oculto) de muitos ataques ao Iraque pelos Estados Unidos é preto – o petróleo.
No verão quente da Amazônia a chuva é recebida com alegria. Suas gotas são brancas, cristalinas, e servem para fertilizar o solo.
A palmeira mais querida no Miri, cientificamente, chama-se Euterphe Oleracea, entretanto, nós a conhecemos por açaí. Sua força já nos proporcionou o título de “capital mundial deste produto”. Quando maduro, seus frutos ficam pretos, ao se tornarem vinho, ganham a cor violácea. Ainda não vi quem o despreze neste município. Em Paragominas muitos não gostam de açaí. Não raro adoram queijo, que é branco.
Conheço pessoas que não dispensam um mamão, cujo interior é vermelho. A banana eu curto “pra caramba”, apenas quando fica amarela.
Minha cor preferida pra roupa é o preto. No entanto, nunca encontrei um médico trabalhando que não fosse de branco.
Tem os partidos políticos. O PSDB, que agora faz oposição no Pará e no Brasil, milita no amarelo; os da situação são vermelhos. Igarapé-Miri, por sua vez, está sendo governado pelos Democratas (ex-PFL),( alias hoje pelo PMDB) com suas bandeiras em laranja, mas, o Pina, que ainda se quer Prefeito, defende o vermelho.
No campo dos relacionamentos sou dado a fazer amigos. Tenho muitos: brancos, negros, mulatos e tantos mais. Meu parceiro, que neste ano foi aprovado no vestibular pra Matemática, tem o cabelo avermelhado, mas é natural. Há também os que pitam os seus, e eu não tenho preconceito com isso. Gosto de conversar com idosos de cabelos brancos. Dizem que tê-los é sinal de experiência.
Fiquei muito feliz meses atrás, ao saber por uma pesquisa do IBGE que, dos 100% de habitantes brasileiros, 51% têm raízes indígenas.
Na turma de Letras onde estudo há os que gostam de literatura; outros se afinam com a lingüística, e alguns vão mais pela gramática. Apesar disso, suas diferenças em nada os dividem, pelo contrário, ainda mais os fortalecem, porque os tornam mais completos enquanto grupo.
Vejam só como são as coisas: o Ministro da Cultura no Brasil é negro. Uma das riquezas do nosso país. O cantor, talvez de maior renome por aqui, chama-se Roberto Carlos. Ele é branco. Porém, o “rei” do futebol, inclusive em termos mundiais, que também é brasileiro, é negro.
Bom, em suma, tenho ainda que parafrasear o que outrora se disse sabiamente: cuidemos das crianças... e os adultos não serão castigados!
(inspirado em brancos e negros, de Pedro Bandeira – do livro Palavras de encantamento, coleção Literatura em Minha Casa, 2001; v. 1)



isaac.fonseca@yahoo.com.br
9168-7092

¹Acadêmico do Curso de Licenciatura Plena em Letras (Língua Portuguesa), pela Universidade do Estado do Pará (UEPA)/Núcleo de Paragominas. Colaborador dos jornais A Folha de Maiauatá e Miriense.

Nenhum comentário:

Postar um comentário