terça-feira, 30 de março de 2010

Por conta do Carnaval... a “carne vale” (Prof. Israel Fonseca Araújo(*))

“A festa tem este caráter mesmo de transbordamento, de inclinações libertinas, de prazer total exatamente por estar atrelada ao calendário cristão e por anteceder o tempo de contrição e penitências que se realiza na quaresma. Nos primórdios este clima foi associado ao esbanjamento, aos prodigiosos costumes. Como na quaresma a tradição prega a abstinência dos prazeres, da voz aguda, da carne (de pentear o cabelo e de varrer a casa), os dias que antecedem o compromisso de fé compensam a privação. A carne, então vale. Até a quarta-feira de cinzas, “a carne vale...Carnevale...Carnaval”, arrematava o fundador da EST.”
Sobre o que mesmo trata este excerto que ora transcrevi? Ah, sobre o Carnaval... a carne. É parte de uma contribuição que o professor Abílio Pacheco me manda (em fevereiro último). O título da crônica é “A carne vale (ou o Mardi gras deles lá)”, de Raimundo Sodré, cujo excerto transcrito é-lhe parte integrante.
A crônica de Sodré me fez voltar a pregar os olhos no bem falado Carnaval de 2010, de nosso Igarapé-Miri (méritos vão para a sociedade miriense, que bem soube “brincar” durante esses muitos dias, e também para o “Governo da Participação Popular”/Secretaria de Cultura, pelo esforço e medidas de precaução). Nesse caso a figura mais representativa, aos meus olhinhos ameríndios, é... pensem um pouco... é... a Paróquia de Sant’Ana e sua iniciativa de promover o Carnaval religioso-católico, na Barraca de Sant’Ana, com o seu recém-criado Bloco “Ruah – o sopro da vida”. Foram três dias de muita espiritualidade, brincadeiras e bonita interação não-alcoólica; portanto, sem drogas. Polêmicas político-ideológicas à parte vejo a iniciativa com meus (muito) bons olhos. Depois, o Bloco foi à “Avenida do Samba” (tradução: Av. Cl. Vitório, sentido rio Igarapé-Miri – praça do P. S., que é igual a “Perpétuo Socorro”) e passou com centenas de foliões-cristãos(ãs), cantando, dançando e louvando. Levando, ao final, o pároco da cidade. Isso mesmo, o religioso João Timóteo assinando embaixo pela muito feliz iniciativa, sem a covardia de tantos líderes que, ao co-projetarem certas estratégias, se escondem atrás de pessoas corajosas e, se tudo der certo, assumem a dianteira do processo; se der errado... eles não sabem do que se trata.
Mas o Carnaval traz lembranças – a nós brasileiros – às vezes assustadoras, como é o caso desta que relato aqui, com dois anos de atraso (nostalgia!). Foi através de uma reportagem a TV Record, fevereiro de 2008, sobre um momento do Carnaval baiano:

No Domingo Espetacular – TV Record (10/02/2008) foi exibida uma reportagem sobre o Carnaval de Salvador (violência, diversão...). Inicialmente mostrou várias cenas de violência entre foliões – incluindo supostas gangues que atuariam disfarçadas dentro dos Blocos, e outras mais esporadicamente. Já noutro recorte da reportagem, o destaque recaiu na violência de uma parte dos policiais encarregados da segurança desse evento. A matéria tinha um Especialista em Segurança que comentava alguns fatos mostrados. A mesma matéria mostrou várias cenas de espancamento feitos por policiais, todas (salvo engano) sem que as vítimas demonstrassem reação.
O que mais me chama a atenção nesses momentos de linguagem enquanto instrumento de interação são falas como: “As imagens vão parar na Corregedoria de Polícia e, se for constatado abuso da Autoridade Policial...”. Mas, como se for? Quer dizer que nós estamos vendo violência, mas não a enxergamos? Isso me faz lembrar de frases como a seguinte (num Capítulo da repetida novela Global “Coração de Estudante”, em fev/2008): “A política é a arte de falar não dizendo”.
Será que estou olhando, mas não vendo e ouvindo sem escutar?
Até uma próxima oportunidade.
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(*) Licenciado Pleno em Letras/Português (UFPA)... Educador das Redes Públicas de Ensino de Igarapé-Miri (PA) e SEDUC-PA.

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