sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Croniquinhas do Prof. Israel

Uma Croniquinha de Lingüística:
Sobre A.N.B., Calypso e F.H.C.
Prof.

Israel Fonseca Araújo – fonsecaraujo@bol.com.br


Olá, tanta gente! Às vésperas do Natal (2007), estava eu querendo escrever acerca da linguagem da propaganda aplicada, especificamente, à época natalina. Iria falar dessa desleal apelação que é feita às pessoas, sobretudo às mais “ingênuas”, haja vista que (numa dentre tantas outras perspectivas de análise) o verdadeiro valor do Natal fica esvaziado: o viés capitalista é (sobre) posto a quaisquer outros – o importante (?) é vender, lucrar e... quem não compra e/ou não ganha presente... Bom, mas em fins de novembro último (2007), o PSDB fez a sua Convenção Nacional e o (agora) ilustríssimo senhor Fernando Henrique Cardoso (a seguir, apenas a sigla FHC) tirou-me a possibilidade de uma ótima noite de sono. Ah!, por quê? As próximas linhas falam por si.
O (antigo) excelentíssimo senhor FHC, ex-presidente de nosso País¸ no momento de falar a seus correligionários “tucanos”, com toda a autoridade que tem um sociólogo da sua envergadura, formado em nível de Pós-Graduação pela Sorbone (Paris), professor em Universidade estrangeiras, esposo de Ruth Cardoso (in memorian, professora e pesquisadora da USP, também grande intelectual)..., disse que nós precisamos de pessoas “milhor” preparadas para nos governar. Pessoas que falem bem (que não “maltratem”?) a nossa língua e também outras línguas! Gosto de algumas das falas de FHC, porque ele é um exemplo vivo de variação lingüística – talvez por isso a sensação de que essa Língua seja “nossa”.
Obviamente que, em virtude do contexto, o Palácio do Planalto respondeu à acusação que FHC fez a LULA (sem crase).
Não estou aqui defendo ou acusando “A” ou “B”. Mas não posso me calar (nem podemos) ante tamanha petulância. Lula transgride as regras que (des) organizam a Sintaxe de nossa Língua: ainda bem que ele e outros fazem isso, do contrário a nossa Língua seria de quem? Dos imortais que já morreram? (SIM. Eu também sou um transgressor!) Mas este texto deve caminhar para seu término. Vamos?
Caso FHC fosse tão competente (em estudos lingüísticos) quanto Marcos Bagno (fala-se “Bânho”), Luft, Sírio Possenti e outros tantos (as), talvez eu tivesse dormido bem (perdão pela redundância: mas não sei se SIM nem se NÃO), mas sustentar um argumento por conta da titulação é uma grande ingenuidade – maior do que a aventável incompetência linguística que ele tentou imputar a Lula. Beira à ignorância, coisa que não se espera de um intelectual desse porte. Não que eu esteja defendendo aqui a inoportuna “especialização” (quando falo nesses estudiosos da Linguística), mas esse tipo de postura, vinda justamente de um sociólogo, PACIÊNCIA!.
Os fenômenos lingüísticos somente ganham sentido quando contextualizados. É por isso (também) que o Ensino de Língua Materna em nosso País ainda é tão caótico: ainda há tanta gente teimando em ensinar português (apenas) pela memorização de regras gramaticais, pelo elenco de frases soltas, que ilustram fatos metalingüísticos acerca de classificação de palavras, da Sintaxe (de regência, de concordância e de colocação pronominal).
(Sobre Calypso é uma história acerca da Ana Maria Braga (não disse “Brega”: disse “Braga”), que envolve “poqueca [é] de ventrecha [é] de filhote”, segundo ela disse, MAS... só na próxima). Um forte abraço e até ela.

Nota: Este texto foi escrito em janeiro/2008 e ligeiramente reescrito em junho/08.

Uma Croniquinha de Lingüística:
Sobre como fazer uma poqueca de ventrecha...Prof. Israel Fonseca Araújo – fonsecaraujo@bol.com.br


Em nossa última conversa, quando “dialogamos” acerca da atitude do (antigo) excelentíssimo senhor FHC, no que diz respeito à fala do (atual) excelentíssimo senhor Luiz Inácio Lula da Silva, não autorizada pela Gramática Normativa da Língua Portuguesa, disse que numa “próxima” Croniquinha falaríamos sobre uma “poqueca de ventrecha de filhote”. Pois bem: vamos saborear esta iguaria?
Foi na edição dia 26/12/2007, do programa televisivo global “Mais Você”, apresentado por Ana Maria Braga, que o Chimbinha (esposo da Joelma: não se pode falar dele sem se referir a ela, pois a Banda mais parece trabalho de apenas eles dois!. É o que acho!) foi ensinar como se prepara a tal poqueca.
Estava eu (acidentalmente) vem TV, quando a apresentadora ANB (para rimar com TV) anunciou que o citado músico estaria em seu programa e ensinaria a preparar uma “poqueca [é] de ventrecha [é] de filhote”. Fiquei excitado quanto à “poqueca [é]”, que esse gênio da guitarra iria nos ensinar a preparar. Mas qual não foi a minha surpresa quando Chimbinha disse (após algumas perguntas de ANB) que uma “poqueca [ê]” é uma espécie de embrulho: senti-me em casa, identificado.
Quantas vezes já não fiz uma poqueca [ê] (conheço essa pronúncia – timbre fechado – cujo objeto, materializado, é usado para iscar o matapi e pegar camarão...)! Você certamente já percebeu que a “poqueca [é]” de ANB é uma variante da nossa “poqueca [ê]”, que a sua “ventrecha [é]” é a “ventrecha [ê]”, que (enfim) estamos diante de um caso de variação lingüística no que concerne à pronúncia das palavras. Neste caso, trata-se tão-somente de uma mudança de timbre, mas há muitos outros fenômenos que por aí estão transitando: um dia poderemos degustá-los.
Que bom! A NOSSA Língua varia, muda, não é um esqueleto morto (lembram dos “imortais que já morreram”? É a redundância em pessoa aqui antes seus olhos). Mas de esqueleto ela quase nada tem. Por outro lado, é indispensável frisar que nem todos os estudiosos (as) de nossa Língua reconhecem o poder dessa variação, que a nossa Língua sempre mudou e sempre mudará, pois é um organismo vivo, dinâmico e que inserido está na dinâmica da sociedade (que nunca pára de dinamizar-se). Tem pessoas que se assumem enquanto autoridades em questões de linguagem que querem uma língua estática, traduzida num parâmetro que serviu de parâmetro há tantos séculos! Tem pessoas que acreditam em discos voadores (não sou contra), que acham que o boto realmente engravida uma mulher, que acreditam em tanta coisa!
Óbvio: a crença é fundamental em nossas vidas, bem como os sonhos, as metas... Alguém que não gosta nem de “ventrecha [é]”, nem de “ventrecha [ê]” é alguém que pensa e que sonha diferente. A diferença é salutar. Quem não gosta da diferença acha “burra” a pessoa que diz fuguista, buto, anssim. É óbvio que existe o padrão, mas este não pode aprisionar os (as) falantes, e antes do padrão vem o cidadão (não foi cidadã porque não rimaria). Ah!, ia esquecendo de duas coisas: 1) na escola devemos aprender a Norma Padrão, pois as outras já sabemos, e 2) a história da iguaria do 1º parágrafo era brincadeira. Bye.

Nota: Este texto foi escrito em janeiro/2008 e ligeiramente reescrito em junho/08.

Nenhum comentário:

Postar um comentário