Prof. Israel Fonseca Araújo (editor; poemeiro@hotmail.com)
(publicado, antes, no Blog Poemeiro do Miri)
A B R E A L A S
Estive procurando um tempo para escrever
um pequeno texto sobre uma parte do que venho refletido, nesses últimos 20
anos, sobre a Copa do Mundo de Futebol. Mas poderia parecer modismo, e isso me
desligou da ideia de sacrificar umas horas de meu descanso. Pra que falar, se
pareceria que é “por moda”?; mas, como não se trata de modismo, vejo que
preciso falar, uma vez que este “Poemeiro do Miri” (o Blog) tem uma
responsabilidade com os debates que se instalam na Terra do Açaí; e, por que
não insinuar, no mundo todo (já que a web é do mundo todo)?
Nesse sentido, venho me justificar a um
pouquinho de amigos e amigas que tenho, aos colegas e a quem lê os escritos
aqui publicados. Há uma relação entre nós e a mesma pode ser mais duradoura,
mais plural e densa, inclusive podemos instalar bons debates físicas pelos
caminhos de canoa (ou não) desta cidade.
Ora, estou (praticamente) nem aí para essa
Copa da Rússia. Reconheço o que é (ou o quanto) significa, para mim e para
muitos brasileiros(as), o Futebol. Aliás, o futebol masculino significa muito,
pois a modalidade praticada pelas mulheres parece profundamente desrespeitada
pelas autoridades, pelos clubes, pela imprensa (imprensa golpista, à
frente). Não me conforma por ver uma terra de boleiros (Igarapé-Miri-PA), uma
região de boleiros (Baixo Tocantins), um lugar de excelentes jogadoras(es) não
ter política pública de incremento aos esportes, ao lazer: sim, esportes, pois
não se trata somente do Futebol (m/f). A diversidade é outra magna marca. Neste
Miri, o melhor que já se fez (desde que acompanho esses governos) foi na gestão
Miguel Pantoja (1993-96); depois disso, uns pequenos investimentos, mas um
trabalho mais sólido... neca, neca.
É claro que a entrega de cargos (funções,
Diretoria, Departamentos) a pessoas ligadas aos empresários e comerciantes do
Miri, a dirigentes de partidos políticos (uns até estouram cadeados para
adentrar às salas)... só poderia dar em um trabalho pífio. Sim, o trabalho com
os esportes em Igarapé-Miri, ao longo de tantos anos, no que tange às
administrações que por aqui passaram (teve uma que durou praticamente 24
horas!!!!) tem sido pífio.
Pode melhorar; creio que melhorará, mas
ainda não chegou aqui um Prefeito(a) que tenha essa percepção, esse olhar. Ou,
melhor dizendo, se apareceu algum candidato(a) que pudesse trabalhar melhor por
essa política pública, o Povo não quis e
demonstra não querer que se eleja. Que trate os esportes como uma
construção, como um “plantar”; até estes dias, a regra de entregar as “pastas”
a políticos (???) e/ou a empresários é a lei desta terra (de outras, tmb).
Enfim, ficamos nesse círculo vicioso: um
pouquinho de futebol masculino, nada de feminino, praticamente zero de esforços
noutros esportes e nossos talentos vão ficando desvalorizados, desmotivados, não
se vê perspectivas e o mesmo vira “pelada”. O poder público dá de ombros e os
arranjos políticos seguem como a tônica dos faroestes. Quando temos a
oportunidade de escolher bons homens e boas mulheres para representar o Povo
(na Câmara e na condição de Prefeito(a)), parece que acontece uma anti-mágica...
Mas não estou olhando a Copa da Rússia
desse jeito (“...estou
(praticamente) nem aí para essa Copa da Rússia”) em razão da conjuntura
social, histórica de Igarapé-Miri-PA, somente; não; não é isso. Minha relação
com as Copas do Mundo (ou Copas dos Mundos,
pois os mundos onde vivem Neymar Jr. e Ronaldos, de Portugal e do Brasil, não
são os mundos que existem neste Mundo: não são) vem sendo re-construída,
reavaliada desde a Copa da França-1998. Refleti bastante depois daquela (em
1994, eu era um adolescente de 17 anos, menos estudos, menos leituras); sei que
tem muito mais coisas entre esse céu (FIFA) e essa terra (o Povo), mais e bem
mais do que supõe a nossa esperançosa filosofia. Tem muita coisa correndo sob
as pontes (não as lindas, as dos goleiros), mas, nem sempre, nos damos conta
disso. E, pior: amanhã, um de nós ainda pode (ou poderá, Deus o livre) votar
num Aécio das Vidas, que é apoiado (nos seus crimes contra o país) por Ronaldo
e por Neymar Jr. (da Nike), das relações da CBF (as investigações
ainda deverão dizer muitas coisas sobre esta), que são íntimos dos
“caras”, dos “ruques” da TV Globo, que são todos muito íntimos de Aécios,
Fernandos, serrotes e pessoas temerosas.
Ora, depois ainda vamos ficar resmungando
porque a “merenda” das crianças de São Paulo está escassa, porque a Saúde
pública tá cheia de sanguessugas ou porque a corrupção em parte do sistema
policial está nos matando cada vez mais, ou podemos estar reclamando diante das
notícias da TV (que pode ser a Globo, referência no sistema golpista
brasileiro: sempre me refiro a Golpe contra a Democracia, contra os Direitos
dos Trabalhadores(as), contra os estudantes e os pesquisadores(as), contra as
Universidades e demais centros de pesquisa; golpe é golpe; é a anormalidade. É
disso que falo, espero que tenha ficado claro). Se nós estamos patrocinando o
sistema de golpes, se estamos empoderando a TV Globo (maioria de nós), se
estamos dando as condições para nossos algozes nos prejudicarem (enquanto povo
que trabalha, produz, faz o país crescer, dá os lucros aos endinheirados deste
país), de ada adianta fazer resmungos por aí. Haja contradição, não?
Vejamos, se a raiz de nossos males
(também) está nesse sistema de golpes, por que o fortalecemos tanto?
A CBF, o time de convocados (com visão de
futuro para as próximas vendas, nas “janelas” futuras, aos lucros das marcas,
não apenas Nike, Itaú etc.), o “professor” Tite, a estrutura da Rede Globo e
outras congêneres, nada disso merece nosso apoio. Mas não estou dizendo um
“não” à paixão, só estou acenando com algumas luzes sobre certos aspectos que
constituem esse todo (poucos, muito poucos aspectos). O que se ramifica para os
campeonatos de Futebol (na Europa, nas Américas, no Brasil, no Clube do
Remo-PA) e por aí vai. O que precisamos fazer, diante dessa estrutura toda, é
buscar entende-la, cada vez mais e com maior profundidade; entender o sistema
de manipulação, o sistema de golpe líquido (sempre mutante, em trânsito, que se
metamorfoseia o tempo todo) é um dever, uma tarefa para quem está do lado de cá.
O meio do muro não é saída para Nós.
Estamos em lados opostos. Ou abrimos os olhos, ou...
P E R T E N C I M E N T O
A Copa “dos mundos” de Futebol é
somente um Torneio. Torneio de bilhões, possivelmente irremediavelmente
atravessado pelas corrupções, não é nada mais que isso; se motiva mais pessoas
a praticarem esportes, creio que sim. Mas esse legado positivo é bem menor do que
os danos que a mesma traz: no caso brasileiro, com a Rede Globo (e demais
estruturas golpistas) tentando manipular (e conseguindo em grande
medida...) nossa população é um dos resultados mais nítidos. A relação (ou
seria equação?) Globo – Nike – Neymar Jr. (e Neymar–pai,
tmb) – Galvão – Itaú (que patrocina golpes, retiradas de direitos
da classe trabalhadora, que luta contra os professores/as do Brasil, contra a
nossa Educação pública) – Vivo e outras bem que poderia
ser melhor debatida. Problematizar a camisa amarela como
símbolo de Golpes, como emblema da devastação de nossos direitos (Reforma
Trabalhista, prejuízos para a Educação, cortes em programas de inclusão
social...), como irmã-zinha do patinho da FIESP.
Enfim, Copa não é o que dá o tom de nosso
pertencimento. Somos mais e o Brasil significa mais, para Nós, do que as
manifestações de cores e de torceres (literalmente, torcer) que chegam e
passam, a cada quatro anos (o que significa, para nós, as execuções de
servidores públicos, de religiosos, de trabalhadores(as) rurais em luta pela
terra?; as injustiças contra nossos líderes (sindicalistas, padres,
agricultores...) a nós significam o quê?).
Se temos essa brasilidade toda, temos de
mostra-la defendendo os nossos direitos, em primeiro e em último lugar. Não
podemos sair do front de
batalha. Não podemos nos embriagar com os anúncios, as cores, as cenas
enunciativas tão bem tecidas pelas emissoras de televisão (e seus portais e
co-portais na internet), com a sensação de que o “Brasil vai pra frente”,
isso porque vence uma partida, avança de fase no Torneio. É preciso ver o
Neymar Jr., mas como uma pessoa que pode estar sonegando impostos (isto é,
............), os quais são (de fato) recursos para a Saúde e para a Educação
públicas. Que ele pode estar sendo protegido não somente pelo Galvão Bueno, mas
pelos órgãos federais, pela Justiça brasileira (talvez, se ele fosse
do front da
classe trabalhadora, poderia estar preso em Curitiba-PR). Qual a
importância de um play boy milionário
(com o devido respeitos aos mesmos) para o reerguimento do Brasil, neste
momento? Para que está contribuindo essa armação toda (emissoras de TV, CBF,
marcas esportivas e de celular, bancos etc., jogadores e empresários/mercado),
em termos de ajudar este país e se reerguer depois de tamanhos golpes nas
costas?
Quantos anos um processo, uma Ação
judicial, uma investigação poderia durar nas instâncias (inter)nacionais, se
comparada a outras, movidas contra outras pessoas?; o mesmo tempo destinado a
Paulo Maluf (SP) e a Simão Jatene (PA) e Jader Barbalho (PA)? Em atenção a
essas mínimas questões postas, qual poderia ser nossa postura de avaliação, de
exames, de criticidades diante de um Torneio mais que bilionário de Futebol?
N A D A C O N T R A
Nada contra nada. Apenas uma brevíssima
análise. Como os jogos estão correndo nos dias de semana, nos horários de
trabalho, com os compromissos todos que nós todos temos, vou vendo uma coisinha
aqui e outra acolá, mas a reflexão sobre o que é uma Copa do Mundo de Futebol
(um Torneio de Futebol) é necessária; e nunca foi tão necessária, nunca mesmo.
É muito bom, é show de bola reunir pessoas
queridas e ver jogos, brincar, se distrair (“distensionar”, como diz amigo
meu); o que pode ser feito não somente a cada quatro anos.
Mas era somente um bate-papo, mesmo: até
mais.