O roubo do gato morto
(Crônica aguda)
(Crônica aguda)
Israel Araújo (Poemeiro do Miri)
Se se diz que é
verdade ou mentira, importa pouco, e pode mesmo ser coisa de “pouco gosto”. É
preciso contar o que não deve ser escondido, claro.
__ Ela já saiu com
a “coisa”, pra jogar na rua, pro carro do lixo.
__ Ainda bem,
retruca a vizinha, já incomodada com o que poderia advir dali.
Nada de tão sério
assim, mas, em terra de amputados, quem tem uma perna... já viu! Verdade é
coisa de relativismos, pensa, às vezes, a vizinha do lado. “Mas ainda bem que ela foi jogar fora o bicho”,
resmunga.
__ Nesta
vida, vivem inventando coisas. A tal da “modernidade”, vizinha. Veja a senhora
se isto tem cabimento. Guardar uma coisa dessas na própria casa...?
__ Cruz
Credo!, retruca a outra.
Mas quem pensa em
tudo levar vantagem, bem, quem pensa assim vez ou outra entra pelo...
Era já pra bem
depois das nove, medo de o caminhão do lixo passar e o “bicho” ficar pra trás,
de não ser levado.
__ Tenho de
despachar logo, logo isto. (“E a agente vive é arrumando para cara da
gente, mesmo”, pensa consigo)
Assim que saiu de
sua casa, sacolas da “Y. Yamada” às mãos, (já falecida, essa) o tal “bicho”
segue pra ser jogado ao destino final, aquele que ninguém sabe para onde vai,
mas todo vê no crescimento dos entulhos, a olhos nus nas nossas cidades. O
“bicho” já quase chegado às latas derradeiras.
__ Pode
passá já pra cá esse troço, p***, que tu já deveu!
E assim lá se foi o
gato morto, de dois dias, que dona Maria queria jogar por fim no caminhão do
lixo.
Essas tais de
“modernidades”.
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