terça-feira, 20 de outubro de 2009

CULTURA E FÉ


O CÍRIO DOS QUE NÃO FORAM
A Localidade de Mamangalzinho, em Igarapé-Miri, festejou neste 2º domingo de outubro, mais uma edição do Círio de Nazaré, na Comunidade

Mais de 60 embarcações entre, barcos,rabetas, lanchas e voadeiras, acompanharam mais uma edição do tradicional Círio de Nazaré, na localidade de Mamangalzinho.A romaria fluvial iniciou por volta das 15 h com uma celebração alusiva em Vila Maiauatá. Em seguida a procissão ganhou as águas do Rio Maiauatá, com destino a comunidade ribeirinha de Mamangalzinho.
De acordo com algumas lideranças das da localidade, a Festa de Nossa Senhora de Nazaré, do Rio Mamangalzinho, teve inicio após uma promessa feita pelo Senhor José Roberto da Costa (Zé Roque) e sua esposa Dona Antonia Farias da Costa (Dona Sinhá), ambos já falecidos.
O senhor Zé Roque e Dona Sinhá eram genitores, da hoje professora aposentada Odete Maués, uma das baluartes da história da comunidade, que hoje é conhecida como C.C Nossa Senhora de Nazaré do Rio Mamangalzinho.
Tudo aconteceu no ano de 1953, quando na época a pequena Odete, de apenas dois anos de idade ficou muito doente, de uma febre extremamente alta, onde a crença popular da época afirmava que a menina havia “apanhado doença”.
Tendo a filha já “desenganada” por um médico conhecido por Doutor Novaes,os pais de Odete, apavorados com a situação, contrataram um “reboque” para levá-la para a cidade de Abaetetuba (já que na época era muito difícil conseguir embarcação motorizada. A cidade de “Abaeté”, conhecida pelos seus bons médicos e farmacêuticos (em alguns casos a exemplo de tantas cidades da Amazônia, o farmacêutico popular é reconhecido e respeitado como um verdadeiro médico).
Era época do Círio de Nazaré, em Belém do Pará, quando às oito horas da manhã, o Senhor Zé Roque e Dona Sinhá, ajoelharam-se em frente ao Cruzeiro da Igreja de Conceição, e rezando fervorosamente, clamaram à Deus, por intermédio da mãe de Jesus Cristo,Nossa Senhora de Nazaré, para que Jesus curasse a pequena Odete. Caso o milagre acontecesse, o casal mandariam que uma ladainha fosse rezada em sua casa, sempre por ocasião do Círio em Belém.
Para alegria e felicidade do casal, Odete foi curada, e assim o casal passou a cumprir a promessa de mandar rezar, em outubro de cada ano uma novena à Nossa Senhora de Nazaré, na casa do próprio casal.A ladainha durou por muitos anos, até que por alguns problemas, a família não conseguiu manter a novena, tentado assim transferir a festividade para recém constituída C.C local,ao que na época não fora aceita pela coordenação.
Anos depois, um senhor que trabalhava na Igreja de Santa Terezinha,em Belém, que visitava a Vila Maiauatá e hospedava-se na casa do Zeca Afonso, conheceu a Comunidade Cristã de Mamangalzinho e percebendo a ausência de uma festividade local ofereceu aos senhores Luiz Farias da Costa de Manoel José Farias da Costa (irmãos que na época atuavam na coordenação) uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré (já que Nabor ouviu as narrativas a respeito do Milagre da cura da pequena Odete).Os irmãos, reuniram toda a coordenação, assim como a comunidade em geral, e decidiram aceirar a doação proposta por Nabor, e assim marcaram a data de procissão da chegada da imagem consagrada.
O senhor Nabor viajou para Belém e na data combinada voltou trazendo a imagem de Nazaré, que a partir daquela data passou a ser novamente festejada (agora na sede da Comunidade Cristã).
A Festa de Nazaré, do Rio Mamangalzinho, é hoje uma festas religiosas mais populares do distrito, recebendo todos os anos, na época do Círio,centenas de pessoas dos mais diversos lugares, como: Vila Maiauatá, Cidade de Igarapé-Miri,Acará, Moju, além das dezenas de comunidades ribeirinhas das circunvizinhanças.
Maria Odete da Costa Maués, hoje tem 58 anos, é professora aposentada, casada, mãe de oito filhos e 19 netos, conta que aprendeu com os amigos e na vida cristã que “quem tem Deus, tem tudo”, e que a frase proferida por Padre Henrique, continua sendo verdadeira, pois de fato “O homem só cresce em Comunidade”.

(Por Antonio Marcos Ferreira)